Batistas e as Ordenanças como Sacramentos
Uma Pesquisa Histórica nas Confissões Batistas Gerais do séc 17
Introdução
Os Batistas Particulares
Batistas Puritanos, ou ainda Batistas Reformados defenderam a Ceia e o Batismo como Sacramentos e meios de graça tanto em obras confessionais como a Confissão Batista de 1689, o Catecismo Batista e a exposição do Catecismo Batista e também em obras particulares. Porém, pouco se fala sobre a linguagem e sacramentalogia dos Batistas Gerais, e o que se fala é levando para um lado de negação dos sacramentos neles.
O que implica numa pesquisa para verificar: “Qual a posição dos Batistas Gerais quanto ao Batismo e a Ceia do Senhor?”.
Uma Curta Confissão de Fé em 20 Artigos, por John Smyth, 1609
13. Que a Igreja de Cristo tem poder delegado a ela mesma de anunciar a Palavra, eleger ministros, exonerá-los e também excomungá-los; mas o último apelo é para os irmãos do corpo de Cristo.
14. Que o Batismo é o sinal externo da remissão dos pecados, de morrer e de nascer de novo, e portanto não pertence aos infantes.
15. Que a ceia do Senhor é o sinal externo da comunhão de Cristo, e da fidelidade entre eles pela fé e amor.
Uma Curta Confissão de fé, por John Smyth, 1610
11. Ele pregou as boas novas prometidas, elegeu e ordenou os sacramentos, os ofícios e ministérios…
17. Ele nos ensina, conforta, fortalece e batiza com o Espírito Santo, seus dons celestiais e vítimas ardentes, e celebra sua ceia espiritual com a alma fiel, tornando-a participante do alimento e da bebida vivificantes da alma, fruto, virtude e valor de seus méritos obtidos na cruz; o único e necessário bem representado nos sacramentos.
23. Nesta santa Igreja, Deus ordenou os ministros do Evangelho, as doutrinas da Santa Palavra, o uso dos santos sacramentos, a supervisão dos pobres, e os ministérios dos mesmos ofícios; além disso, o exercício da admoestação e correção fraternais, e, finalmente, a separação do impenitente; quais santas ordenanças contidas na Palavra de Deus, devem ser administradas de acordo com o seu conteúdo.
28. Há dois sacramentos apontados por Cristo, na sua santa Igreja, do qual, a administração desses, Ele designou ao ministério de ensino, a saber, o Santo Batismo e a Santa Ceia.
Prefácio da Confissão de Fé de Thomas Helwys, Uma Declaração de Fé do Povo Inglês Remanescente em Amsterdã, na Holanda, 1611
Todos também devem saber que o intento do autor não é ensinar que homens podem desprezar ou negligenciar as sagradas ordenanças apontadas por Jesus Cristo para ajuda da sua igreja, nem atribuir a elas mais do que é encontrado, mas para usá-los como meios para nos trazer para o fim; que é aquele que o Senhor não nos deu na água Palavra, Sacramentos e a disciplina da Igreja para seu povo para o fim. isto é, com o fim de que eles se satisfizessem com a obediência exterior dos mesmos, não para pensar que tudo está bem quando seguem com eles; mas também para ser traduzido na obediência daquilo que a palavra ensina, e os sacramentos significam neles, que é ser feito como Jesus Cristo em Sua vida, sofrimentos, morte, enterro, ressurreição e ascensão, por ser participantes com Ele do mesmo espírito; considerando que nós dizemos, e que o Senhor te dê entendimento de todas as coisas.
Confissão de Fé de Thomas Helwys, Uma Declaração de Fé do Povo Inglês Remanescente em Amsterdã, na Holanda, 1611
13. Que toda Igreja deve receber em todos seus membros pelo Batismo sobre a Confissão da sua fé e pecados , de acordo com a instituição primitiva (Mateus 28.19) e prática (Atos 2.41). E portanto Igrejas constituídas de qualquer outra forma, ou por qualquer outras pessoas que não estejam de acordo com o Testamento de Cristo.
14. Que Batismo ou lavagem com água é a manifestação externa de morrer para o pecado, e caminhar em novidade de vida (Romanos 6.2-4). E portanto de nenhuma forma inteligente pertence aos infantes.
Uma Curta Declaração do mistério da Iniquidade, por Thomas Helwys, 1612
As mesmas palavras proferidas pelo Espírito Santo. Assim o Espírito de Deus nos ensina, que uma falsa Igreja não é Igreja, mas uma sinagoga de Satã, e falsos apóstolos não são apóstolos, então também os falsos sacramentos não são sacramentos…
Proposições e Conclusões Concernente a Verdadeira Religião Cristã, por 1612-1614
73.Que o batismo exterior e a Ceia não conferem e comunicam graça e regeneração para os participantes ou comungantes; mas como a palavra pregada, eles servem somente para suporte e levar ao arrependimento e fé dos comungantes até que Cristo venha, até o amanhecer, e a estrela da manhã brilhar nos seus corações (1 Co 11.26, 2 Pe 1.19 e 1 Co 1.5-8)
74.Que os sacramentos tendo o mesmo uso que a palavra tem; que eles são uma palavra visível e que eles ensinam os olhos dos que entenderam como a palavra ensina os ouvidos dos que a tem ouvido (Pv 20.12), e portanto como a palavra não pertence aos bebês, muito menos os sacramentos.
75. Que a pregação da palavra e ministração dos sacramentos representam o ministério de Cristo no Espírito; que ensina, batiza, e alimenta o regenerado, pelo Espírito Santo internamente e invisivelmente.
O Credo Ortodoxo, 1679
Artigo 19. Da Concordância entre a Antiga e a Nova Aliança
… E como eles tinham o Maná para alimentá-los do deserto até Canaã, nós também temos os Sacramentos para nos alimentar na Igreja, e em nossa condição de deserto, até que nós cheguemos aos céus…
Artigo 27. Do Batismo e da Ceia do Senhor
Esses dois sacramentos, a saber, Batismo e a Ceia do Senhor, são ordenanças de Instituição Positiva, Soberana e Santa, apontadas pelo Senhor Jesus Cristo, o único legislador, para ser continuada na sua Igreja até o fim do Mundo; e para ser administrado por aqueles que são corretamente qualificados e para elas chamados, de acordo com o mandamento de Cristo em Mateus 28:19.
Artigo 28 Dos sujeitos corretos e da Administração do Santo Batismo
Batismo é uma ordenança do Novo Testamento ordenada por Jesus Cristo para ser na parte batizada, ou mergulhada, um sinal de nossa entrada no Pacto da Graça, e do nosso enxerto em Cristo, no Corpo de Cristo que é a sua Igreja. E da remissão de pecados no Sangue de Cristo, e da nossa comunhão com Cristo, na sua morte e ressurreição, e da nossa vida, ou de levantar para novidade de vida. E ordinariamente ninguém deve ser admitido na Igreja Visível de Cristo sem ser primeiro batizado e aqueles que realmente professam arrependimento para Deus e fé em Deus, e obediência ao nosso Senhor Jesus Cristo, [estes] são os únicos sujeitos apropriados desta ordenança, de acordo com a santa instituição do Senhor, e da prática primitiva; e deve pelo ministro ou administrador ser feito de forma solene, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, por imersão ou mergulho da pessoa no elemento da água, isto sendo necessário para a devida administração deste santo sacramento, como as santas escrituras mostram, e os primeiros e melhores testemunho por algumas centenas de anos.
Artigo 33. Do Fim e da Correta Administração da Santa Ceia
A Ceia do Senhor Jesus foi instituída por Ele na mesma noite em que foi traído, para ser observada pela sua igreja até o fim do mundo, para uma lembrança perpétua e para mostrar o sacrifício dEle na sua Morte; e a confirmação dos crentes fiéis em todos os benefícios da sua Morte e Ressurreição, e do Alimento e crescimento espiritual nEle, selados neles pela sua continuidade no pacto da graça, e para ser uma prova e garantia da comunhão com Ele, e uma obrigação da obediência a Cristo, ambos passivamente e ativamente, como também da nossa comunhão e união cada um com o outro, na participação deste santo sacramento.
Conclusão
As confissões de fé batistas gerais usavam o termo ordenança e sacramento de forma intercambiável, e usaram sim o termo “sacramento” explicitamente para se referir ao batismo e a Ceia, não apenas uma única vez ou num único documento confessional.
Quanto ao conceito e comunicação de graça, parte da linguagem que é “Graça Visível”, “Sinal Visível” e “Palavra Visível” estão presentes nas obras pesquisadas.
A dificuldade aparente é apenas com a obra das Proposições, devido à negação da comunicação de graça, porém, essa mesma linguagem é e era usada no campo reformado, pois ela não nega a graça em si, mas apenas que ela comunique ex opere operato, e ainda o texto afirma que os sacramentos servem para nossa fé e arrependimento, tendo o mesmo uso que a Palavra, e sendo até a Palavra visível. O que implica num sentido a mais do que uma “ordenança” vazia.
O Documento batista geral mais elaborado do século 17, O Credo Ortodoxo, além de usar o termo “sacramento”, afirma a comunicação de graça, e os liga com o pacto da graça, afirmando que as ordenanças servem para a nossa alimentação espiritual.
Referências
A Short Confession of Faith in Twenty Articles by John Smyth
A Short Confession of Faith (1610)
Helwys Confession, 1611
A Shorte Declaration of the mistery of iniquity by Thomas Helwys
Propositions and Conclusions concerning True Christian Religion
Orthodox Creed, 1679
Extraído de "doutrinaevida.wordpress.com"
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