Das tarefas que compõem a atividade pastoral, a celebração dos cultos públicos dominicais é a mais testemunhada. Mesmo por parte de quem não é frequentador de igreja, a primeira associação da imagem de um líder religioso é à dinâmica dos cultos que acontecem no templo.
Acontece que a rotina do exercício pastoral se dá majoritariamente em outro ambiente que não o templo: o gabinete. No vocabulário religioso evangélico, gabinete é o termo que se usa como referência ao escritório no qual o pastor recebe as pessoas para aconselhamento. É isso o que o pastor faz na maior parte do seu tempo. Recebe pessoas ou vai ao seu encontro para cuidar de suas demandas.
Essa rotina de dedicação ao cuidado das pessoas em suas demandas gera uma sobrecarga emocional que quem não acompanha esse dia a dia muitas não consegue dimensionar. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos, no ano de 2023, pelo instituto de pesquisa Barna Groupem parceria com a ONG World Vision International ajuda a perceber a realidade do cenário pastoral.
Segundo o levantamento, 56% dos líderes religiosos sofrem com depressão e 65% se sentem solitários e isolados. Além disso, um em cada três pastores correm risco de esgotamento. Ainda que apenas 24% de todos os líderes afirmam não conhecer nenhum colega afetado por Burnout, três em cada quatro dizem que sabem de pelo menos um colega cujo ministério terminou devido a esgotamento, número que chega a 76%.
No Brasil o cenário não é diferente. Lido cotidianamente com pastores e pastoras enfrentando quadros de exaustão, estresse, depressão e ansiedade. Dos muitos casos, dois me marcaram recentemente. O primeiro foi a história de um pastor com 27 anos de idade diagnosticado com síndrome de burnout. Ainda não tem cinco anos completos de ministério pastoral, e já recebeu recomendação médica para que se afastasse das atividades a fim de se tratar.
O segundo foi o relato de uma pastora com mais de 60 anos de idade, dos quais quase 35 dedicados ao pastorado de uma igreja. Quando perguntada sobre o que gostava de fazer para si mesma não soube responder. Ela simplesmente não conseguia pensar em absolutamente nada que a desse satisfação. Depois de um tempo, sua resposta veio em meio a lágrimas: uma vida toda pensando nos outros, e não consigo sequer lembrar da última vez que pensei em mim e no que gostava.
Foi impulsionado por esta realidade cada vez mais incidente que aceitei o convite da Visão Mundial Brasil para participar do lançamento de uma nova fase da iniciativa Pastores pela Vida: uma série de podcast a fim de levar às lideranças religiosas um momento essencial de reflexão e autocuidado com sua saúde mental. Nesta primeira temporada, os episódios serão semanais, disponibilizados nas plataformas digitais Spotify, Deezer, Apple Music e no canal do Youtube da Visão Mundial.
A ideia é fomentar em quem tanto cuida dos outros a consciência da importância do cuidado de si e, com isso, proporcionar longevidade, saúde e qualidade de vida. Um assunto como o autocuidado, que está tão em voga hoje na sociedade, não pode passar despercebido por uma parcela da população que há tanto tempo tem dedicado a sua vida à nobre vocação de cuidar do seu próximo.
Daniel Guanaes, PhD em teologia, é pastor na Igreja Presbiteriana do Recreio (RJ) e psicólogo clínico. (Observatório Evangélico)
.jpeg)
.jpg)
.jpeg)
