'Ministérios da meia-noite' acolhem pessoas rejeitadas por muitos cristãos
Há pelo menos oito anos o bispo Wesley Carvalho, 29, sai com uma equipe às ruas de Manaus (AM) para evangelizar pessoas marginalizadas. Usuários de drogas, pessoas em situação de rua e prostitutas são convidados para o culto da madrugada, que ocorre na Igreja Terra de Avivamento pelo menos uma vez ao mês.
Para convencer as prostitutas, eles oferecem dinheiro pelas horas que estariam trabalhando --em média, R$ 50. Nem todas aceitam.
Ao chegar na igreja, todos são recebidos com festa, abraços e jantar. Banho, corte de cabelo e escuta atenta também são ofertados.
Durante o apelo [momento no culto em que o líder chama às pessoas ao arrependimento], muitos vão à frente chorando. Entregam cachimbos, cigarros ou garrafas de bebida. A partir daí, a igreja se mobiliza para cuidar deles e, quando possível, sustentar a internação em clínicas de reabilitação.
"Se você não sair de lá, a morte vai te encontrar". Essa foi a frase que Robson Pinheiro, 27, ouviu do bispo Wesley durante um culto. O alerta tinha relação com seu estilo de vida: por quase 10 anos ele atuou como traficante. Em uma madrugada foi convidado pela equipe no momento em que vendia drogas nas ruas.
Casado com Rosana e pai de quatro filhos, chegou a ser preso por dois meses, mas hoje está em liberdade provisória, aguardando julgamento. Ele conta que em todo o tempo a esposa orou para que ele deixasse o crime.
Naquele culto, após o chacoalhão, Robson decidiu abandonar tudo. "Dinheiro amaldiçoado acaba. Hoje trabalho na obra [na igreja] e tenho meu dinheiro honesto. Perdi muita coisa, hoje moro de aluguel, mas durmo a noite toda, não tenho mais medo", conta o obreiro que hoje atua como "anjo da madrugada" no resgate de pessoas que antes compravam drogas dele.
"É área que Jesus trabalharia", diz Wesley Carvalho sobre o trabalho. O líder é casado com a bispa Laís, 26, e pai de três filhos. O casal já atua na área social há 11 anos. "Nunca é cedo ou tarde demais para servir [as pessoas em vulnerabilidade]. Basta amor e vontade. O resto é com Deus", afirma.
Quem partilha do mesmo chamado é o pastor Léo Apicelo, do ministério Marca de Cristo, no Rio de Janeiro (RJ). "A igreja da meia-noite nasceu há seis meses para dar acesso e oportunidade às pessoas que, na sua grande maioria, não são bem aceitas dentro de uma igreja", explica.
"Elas estão exalando um odor forte, algumas alcoolizadas ou sob efeito de drogas, algumas estão maltrapilhas, com roupas consideradas fora dos padrões religiosos, e infelizmente, ainda vivemos num mundo muito preconceituoso", observa.
A Marca de Cristo abriu mão de seu prédio próprio para oferecer abrigo para 150 pessoas. No local, uma cozinha industrial é responsável por servir cinco refeições por dia para todos eles.
Em outro prédio funciona uma academia comunitária e um centro cultural com alfabetização e cursos profissionalizantes.
Em outro prédio funciona uma academia comunitária e um centro cultural com alfabetização e cursos profissionalizantes.
Melina Cardoso - Folha de São Paulo
evangelicos@grupofolha.com.br
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